terça-feira, 18 de maio de 2010

Brasil e a Segunda Guerra Mundial

Em 1939, quando a Alemanha invade a Polônia, é iniciado um conflito entre os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e os Aliados (Inglaterra e França).
A primeira declaração brasileira sobre a Guerra foi de neutralidade; porém,quando a alemanha nazista começou a traçar conquistas pelo continente europeu nos dois primeiros anos do conflito, as nações americanas se manifestaram e organizaram uma conferência em Havana, Cuba, em Julho de 1940, onde decidiram que um ataque à uma nação americana resultaria na entrada de todas as outras no conflito.
Então,quando os japoneses atacam a ilha de Pearl Harbor e os Estados Unidos entram na Guerra no lado dos Aliados, os países de nosso continente precisam declarar suas posições.
Antes do rompimento das relações diplomáticas com o Eixo, o Brasil de Vargas mantinha boas relações comerciais com a Alemanha e a Itália. Em 1936, Brasil e Itália firmaram um acordo para compra de submarinos italianos, que seriam pagos com algodão e outros produtos brasileiros. O exército brasileiro também importava armamentos da Alemanha nazista.
A entrada oficial dos Estados Unidos na guerra levou representantes dos países americanos a se reunirem novamente, dessa vez no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Nessa reunião, realizada em 28 de janeiro de 1942, a maioria dos países decidiu ficar ao lado dos Estados Unidos, rompendo relações diplomáticas com o Eixo. As únicas exceções foram a Argentina e o Chile.
Em reação ao rompimento das relações diplomáticas do Brasil com o Eixo - e também para evitar que matérias-primas brasileiras fossem aproveitadas no esforço de guerra dos Aliados -, submarinos da Alemanha nazista (e também da Itália fascista) começaram a torpedear navios brasileiros.
E não há como negar a simpatia do governo Vargas e seus membros pelos representantes do Eixo, porém, Vargas não arriscaria assumir uma postura favorável ao Eixo na guerra, pois seria o mesmo que declarar guerra contra os EUA,”o vizinho rico do norte”.
Os EUA não hesitariam em invadir o litoral do Nordeste brasileiro para ocupar bases aéreas, já almejadas por eles devido a sua localização.
O interesse norte-americano nos portos e bases do Brasil surgiu devido à localização geográfica, o que permitia que esses locais servissem de escala para o envio de mantimentos, material bélico e homens para a África, onde os Aliados também enfrentavam os alemães. Em troca dessa autorização, os Estados Unidos forneceram ao Brasil armamentos modernos.

A decisão final sobre a posição brasileira quanto ao conflito veio em 1942, quando o submarino alemão U-507 afundou cinco embarcações brasileiras, matando aproximadamente seiscentas pessoas. Tal agressão gerou uma resposta popular, como passeatas estudantis e episódios de depredações de estabelecimentos comerciais pertencentes a imigrantes vindos de países que faziam parte do Eixo - e até tentativas de linchamento desses imigrantes: atos para pressionar o Governo a declarar oficialmente guerra contra os países do Eixo, o que ocorreu em 31 de agosto de 1942, com a declaração do estado de guerra.

Passeata estudantil pedindo declaração de guerra
DIFICULDADES
Entre o Brasil declarar guerra e conseguir enviar um contingente para lutar nos campos de batalha na Europa houve um longo intervalo de tempo. Os obstáculos eram muitos. Dentre outras razões, o material bélico de que o país dispunha já era obsoleto na época.

Para se modernizar e estar preparado para a guerra, o Brasil precisou da ajuda dos Estados Unidos. No esforço de modernizar as forças armadas brasileiras, alguns oficiais brasileiros foram mandados aos Estados Unidos para realizar cursos e estágios. Assim, aos poucos, os então obsoletos modelos militares passaram a ser substituídos pelos modernos modelos norte-americanos.

Operação sigilosa
O plano original era enviar a FEB para lutar no norte da África, mas os brasileiros acabaram sendo enviados para lutar nos campos de batalha da Itália. Outra coisa que saiu diferente do plano original foi o número de homens que fariam parte da FEB: a idéia inicial era mandar cem mil homens para a linha de frente, mas tal meta seria impossível de ser alcançada. Acabaram sendo enviados 25.334 homens.

TREINAMENTO INTENSIVO:
Ao chegarem à Itália, os brasileiros viram algumas das marcas da destruição trazida pela guerra. No mar, ao redor do navio que transportava os brasileiros, estavam destroços de navios italianos. Em terra, os soldados se depararam com casas e prédios napolitanos em escombros, destruição causada tanto pelos bombardeios aéreos dos Aliados quanto pelas demolições feitas pelos alemães, antes de abandonarem a cidade.

O porto estava movimentado. A Itália era um país dividido. Havia entrado na guerra ao lado da Alemanha nazista, mas a situação mudara no ano anterior: após a tomada da Sicília pelos Aliados (17 de agosto) e o desembarque de tropas britânicas na Calábria (3 de setembro), a Itália rendeu-se aos Aliados e declarou guerra à Alemanha nazista (13 de outubro).

Nesse aspecto, a FEB foi um exemplo raro de integração multiétnica, pois lado a lado estavam soldados das mais diversas origens e cores de pele: brancos, negros, mulatos, caboclos, cafuzos e nikeis (descendentes de japoneses).
Primeiras missões e reforços
No dia 15 de setembro, no Vale do rio Arno, os pracinhas fizeram suas primeiras missões de patrulha. O batismo de fogo ocorreu no dia seguinte, quando os brasileiros tomaram a cidade de Massarosa e foram recebidos com entusiasmo pela população local.

No dia 18, uma nova vitória: os brasileiros tomam a cidade de Camaiore. Em 26 de setembro, após seis dias de luta, os brasileiros conquistam o monte Prano, o que custou as vidas de quatro brasileiros, as primeiras baixas fatais da FEB na Itália.

Em novembro, chegaram à Itália novas levas de combatentes da FEB: o 1º Regimento de Infantaria, com sede no Rio de Janeiro, e o 11º Regimento de Infantaria, com sede em São João del Rey.

Nessa época, também chegaram à Itália, mais especificamente em Livorno, os cerca de quatrocentos pilotos do 1º Grupo de Aviação de Caça da FAB (Força Aérea Brasileira). Antes de partirem do Brasil para a Itália, esses pilotos haviam recebido treinamento nos Estados Unidos.

No final de novembro, os soldados brasileiros receberam a missão de conquistar uma elevação na região dos Apeninos: Monte Castelo. A campanha dos Aliados na Itália, aliás, foi essencialmente travada em montanhas e colinas.
Além de tomar cuidado para se proteger do inimigo, os soldados precisavam ter habilidades de alpinista: cada pracinha carregava cerca de 25 quilos de equipamento. Os brasileiros não haviam recebido treinamento para o combate em montanhas, sequer tinham feito exercícios básicos de combates em terreno elevado, embora o Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, oferecesse locais adequados para esse tipo de treinamento.

Outra vantagem do exército alemão era a experiência: o marechal Kesselring, que comandava os grupos de exército alemães, dispunha de vinte divisões bem treinadas e com experiência em combate (muitos dos soldados alemães que estavam lá já haviam lutado na frente russa).
Monte Castelo
Tomar Monte Castelo não foi nada fácil. As primeiras tentativas, realizadas nos dias 24, 25 e 26 de novembro, fracassaram. Uma quarta tentativa também fracassou. Em dezembro, as nevascas e o intenso frio do inverno europeu tornaram as condições ainda mais desfavoráveis aos brasileiros.

Os pracinhas se viram obrigados a ficar entrincheirados nos fox holes (tocas de raposa), buracos cavados no solo pedregoso. Além dos atiradores alemães, os brasileiros tiveram que enfrentar o frio e o risco de terem os pés congelados, o que poderia causar gangrena e tornar necessária a amputação.

Em fevereiro de 1945, com o final do inverno, uma nova operação foi lançada. Num esforço conjunto com a 10ª Divisão de Montanha do Exército Americano, os brasileiros atacaram. No dia 21 de fevereiro, após doze horas de combate, finalmente conquistaram Monte Castelo.

Para dificultar a visão dos atiradores alemães (que estavam nas melhores posições), os brasileiros queimavam óleo diesel, o que criava uma nuvem de fumaça escura. Os pracinhas também contaram com a ajuda da artilharia comandada pelo general Cordeiro de Farias e da aviação. Mais da metade das baixas fatais da FEB se deveu às tentativas de se tomar Monte Castelo.
Série de vitórias
Com o moral elevado, a FEB prosseguiu numa série de vitórias. Em 5 de março de 1945, os brasileiros conquistaram Soprassosso e Castelnuovo. Antes que os Aliados pudessem chegar ao vale do rio Pó, os alemães ainda resistiam numa última cadeia montanhosa: a linha Gêngis Khan, que passava pela cidade de Montese e pelos montes Serreto, Possessione e Montello.

A FEB começou a mover uma verdadeira perseguição aos alemães, motivada pelo desejo de vingar os companheiros mortos em Monte Castelo. Em Montese teria início a mais sangrenta batalha travada pelos brasileiros na Itália. Os brasileiros conquistaram Montese na manhã do dia 15 de abril. Essa vitória custou caro para a FEB: cerca de mais de quatrocentas baixas (contabilizando mortos, feridos e desaparecidos). Em 21 de abril, os brasileiros tomaram Zocca.

No mesmo dia, os Aliados entraram em Bolonha. No dia 29 de abril, véspera do suicídio de Hitler, a FEB capturou, na cidade de Fornovo di Taro, a 148ª Divisão Alemã, o que significou o aprisionamento de mais de quinze mil alemães, dentre os quais, dois generais.

A partir daquele momento, a FEB se transformava numa força de ocupação militar. No dia seguinte, ocupou Alessandria, a 60 quilômetros de Turim, e, junto com soldados norte-americanos, também participou da libertação da própria Turim. Em dois de maio, o general Mark Clark dava por encerrada a campanha dos Aliados na Itália. Para os brasileiros, a guerra terminava naquele momento.
Volta para casa
No Brasil foram organizadas festas para receber os combatentes. Vargas temia que a FEB fosse usada como símbolo para derrubar o Estado Novo. Afinal, o fato de os pracinhas terem lutado contra ditaduras na Europa poderia ser usado como pretexto para derrubar a ditadura no Brasil.

De fato, dentro da FEB, as idéias democráticas ganharam a simpatia de oficiais e soldados.
Os membros da FEB logo perceberam as diferenças entre os Estados Unidos, um país moderno, em que se realizavam regularmente eleições diretas, e o Brasil, então um país atrasado, que vivia sob uma ditadura parecida com as que os pracinhas estavam enfrentando na Europa.
Fim do Estado Novo
Para evitar a exploração do significado político da volta dos pracinhas, o governo Vargas dissolveu a FEB quando a maior parte do contingente ainda estava na Itália. Após os desfiles, os expedicionários foram proibidos de andar uniformizados pelas ruas ou de portarem medalhas e condecorações. Também estavam proibidos de dar entrevistas ou declarações públicas.

Nada disso impediu que, no dia 29 de outubro de 1945, tropas lideradas pelo general Góis Monteiro cercassem o Palácio do Governo e forçassem Getúlio a renunciar. Era o fim do Estado Novo.


Extras
+ CULTURA
Além de termos participado no conflito militarmente, participamos culturalmente também: a segunda geração do modernismo brasileira tem em suas obras o sentimento de pessimismo gerado pelo contexto da época - Segunda Guerra Mundial e ditaduras, como é possível notar nas obras de Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meirelles, por exemplo.

+OBSTÁCULOS
A participação brasileira na Guerra foi de pequeno porte se comparada às de outras nações como os Estados Unidos, porém, para que ela ocorresse foi necessário muito dinheiro e alguns sacrifícios, o Brasil , em 40, sofria com uma população majoritariamente pobre e outros problemas internos como o analfabetismo, mas nem por isso deixou de participar deste conflito.

+CONTRADIÇÃO INTERNA
Se havia alguma incoerência no fato de a ditadura de Vargas entrar na guerra ao lado das democracias, haveria mais incoerência ainda numa aliança entre o Brasil e a Alemanha. Seria um absurdo um país multiétnico, de população miscigenada, aliando-se a uma ditadura que pregava a superioridade da raça ariana e a escravização e o extermínio das raças consideradas "inferiores".
Os que chamam a atenção para as semelhanças entre o Estado Novo e os regimes totalitários da Europa costumam se esquecer das diferenças entre esses mesmos regimes.
A ditadura brasileira tinha em comum com o nazismo e o fascismo a perseguição aos comunistas, mas perseguiu também os integralistas (que possuíam em seus quadros vários simpatizantes de Hitler e de Mussolini).
Se as técnicas de propaganda empregadas pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para promover o governo Vargas no cinema e no rádio (a obrigatoriedade de transmissão do programa a Voz do Brasil é resquício dessa época) eram algumas das
mesmas empregadas pela propaganda nazifascista, também guardavam semelhanças em relação a algumas das utilizadas pela propaganda do governo Franklin Roosevelt, nos Estados Unidos (Roosevelt, um presidente eleito democraticamente, também se valia de um programa de rádio para falar ao seu povo).
Aliás, é possível que Vargas, em suas medidas paternalistas (que lhe valeram a fama de "pai dos pobres") e de intervenção estatal na economia, também tenha se inspirado no New Deal, o programa de medidas adotadas por Roosevelt para combater o desemprego nos Estados Unidos durante a crise econômica causada pela quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929.
Outro fator que inviabilizava qualquer possibilidade de aliança entre o Brasil e a Alemanha era a aversão da opinião pública brasileira ao nazismo. O nazismo tentou fincar raízes no Brasil. Para isso, montou uma rede de propaganda: antes da entrada do Brasil na guerra, muitos jornais e revistas nazistas chegaram a circular entre a comunidade de imigrantes alemães nas
regiões Sul e Sudeste.
Na verdade, havia simpatizantes do nazismo e do fascismo no Brasil tanto dentro quanto fora das colônias alemã e italiana. Apesar disso, o nazismo nunca conseguiu conquistar a simpatia da maioria dos brasileiros.
Entre os que repudiavam o nazismo estavam opositores do Estado Novo, como, por exemplo, os comunistas - que, por razões óbvias, nutriam simpatia pela União Soviética - e alguns membros do próprio governo Vargas, que eram simpáticos às democracias liberais (Estados Unidos, Inglaterra, etc.). Dentre estes últimos, Oswaldo Aranha, então ministro das Relações Exteriores.
Além disso, após os afundamentos de navios brasileiros e as passeatas da UNE exigindo que o Brasil declarasse guerra à Alemanha, grande parte da população brasileira passou a repudiar o nazismo, o que impediu o aumento de seus simpatizantes em território brasileiro.

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